“Vi a tecnologia chegar rapidamente ao TCE”

Filha mais velha de uma família de seis irmãos, sendo gêmea do advogado Jonas Lins, a conselheira Yara Lins dos Santos, de 57 anos, tem três filhos que decidiram pela carreira jurídica, seguindo o seu exemplo. Aos 18 anos, em busca de independência e mesmo recebendo pensão dos pais — os tabeliães Terezinha de Jesus Lins Rodrigues e José de Araújo Rodrigues —, ela decidiu ingressar no Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM), por meio de concurso, para o cargo de taquígrafa, no ano 1975. Fez um curso de um ano e entrou no TCE, onde exerceu diversas funções. Humilde e aplicada no trabalho, Yara Lins dos Santos foi escolhida por merecimento pelo governador José Melo para a função de conselheira no semestre passado. Querida pelos servidores, a conselheira já foi presidente da Associação dos Servidores do TCE (ASTC) e foi, por 11 anos, secretária administrativa da Corte de Contas, uma espécie de primeira-ministra do TCE, além de auditora-adjunta e auditora por 12 anos. Em mais de 30 anos de serviços prestados à corte de Contas, a conselheira viu a máquina datilográfica ser substituída pelo computador nas dependências do TCE e acompanhou várias mudanças na corte de contas. Nesta série de entrevistas com  os conselheiros e auditores, ela conta um pouco de sua vida no TCE, fala de melhorias para os servidores e relembra caso antigos dentro do Tribunal.

Decom: É formada direito e contabilidade, mas é a única com formação em direito de sua família? São quantos filhos? É a do meio, caçula ou primogênita?

Yara Lins dos Santos: Não. Tenho uma irmã e dois irmãos formados em direito. Somos seis irmãos e sou gêmea de outro irmão (Jonas). Somos os mais velhos. Meus pais sempre foram muito presentes. Como a mais velha, sempre tive a preocupação de dar o bom exemplo. Sou casada há 25 anos e tive três filhos, todos eles formados em direito, o mais velho é juiz federal do Trabalho, uma servidora pública e o outro quer ser empresário.

Decom: A senhora entrou no TCE cedo, muito nova, como veio parar da Corte?

YLS: Eu terminei o ensino médio e queria muito trabalhar. Mesmo sem necessidade financeira, porque os meus pais eram tabeliães e a minha mesada era superior ao salário que poderia ter no TCE, eu queria independência, já queria trabalhar. No TCE não tinha concurso para outro cargo, a não ser para taquigrafa. Primeiro fiz um curso de um ano, depois o concurso e entrei no TCE em 1975, aos 18 anos, no primeiro emprego. Sempre trabalhei com os conselheiros. Fiz o científico no colégio Dom Bosco e depois fiz o curso superior em contabilidade, terminando em 1983. Depois fiz direito. Aqui dentro, fui fazendo os concursos internos. Fui técnica de Controle Externo e depois inspetora de Controle Externo. Mais tarde, eu fui convidada para ser a secretária administrativa da Corte, onde fiquei na função por 11 anos. Naquele tempo, a secretária era a que fazia tudo, era um espécie de "primeira-ministra do TCE". No ano de 1989, por merecimento, assumi a função de auditora-adjunta do TCE e 2002, auditora. Este ano, assumi a vaga de conselheira deixada pelo então conselheiro Lúcio Albuquerque.

Decom: O governador José Melo a escolheu em uma lista tríplice, por merecimento, para o cargo de conselheira na vaga reservada para os auditores. Como se sente sendo a segunda mulher a ingressar no colegiado do TCE e a única mulher do Tribunal Pleno atualmente?

YLS: Sinto-me bem, sinceramente, e feliz, mas não tenho extrema vaidade por causa disso. Procuro fazer o meu trabalho. Eu sempre penso que todos são iguais. Apesar de ser mulher, eu sinto que o tratamento é igual. Estou na mesma posição dos homens. Não tem essa de achar que sou mais frágil, mais dócil, mais isso ou aquilo. Temos de encarar a realidade como ela é, como as coisas são. Somos todos conselheiros e temos de seguir a lei. Num ditado popular, você tem de ser homem também. Agora, me policio sempre com essa questão da vaidade. Não sou melhor que ninguém. Gosto mais de pedir do que mandar. Gosto mais de servir do que ser servida. Sinto-me bem em servir, contribuir com as pessoas, principalmente com os mais humildes. Meu gabinete está sempre aberto. Quando as pessoas vêm aqui, eu atendo logo, não mando voltar e marcar na agenda. Sou acessível.

Decom: São 12 anos de vasta experiência como auditora do TCE e agora é conselheira? Tem diferença? Mudou alguma coisa?

YLS: O que vejo de mudança é no olhar das pessoas comigo, agora. Eu vejo mais mudanças no comportamento das pessoas comigo. Entendeu? O trabalho e o empenho continuam o mesmo. Hoje, eu fico olhando as reações de algumas pessoas… mas enfim.

Decom: Nesses anos todos no TCE, a senhora viu o órgão mudar de endereço, crescer, viu passar vários conselheiros, várias presidências, mas tem algum fato que marcou sua vida funcional?

YLS: Cada mudança, de fato, era uma coisa boa que acontecia. Eu sou do tempo do “Edifício Tartaruga”, para se ter uma ideia, em frente ao antigo hotel Amazonas. Depois passamos para um outro em frente ao Posto 7. Eu vi as mudanças da máquina de escrever, de calcular. Vi a tecnologia chegar rapidamente à corte de contas. Vivi todas as mudanças. Eu era taquígrafa e tinha de fazer atas com 30 folhas para a semana seguinte. Às vezes, tinha de levar para casa para dar conta. Não podia atrasar. Eles (conselheiros) eram muito rígidos. Trabalhei com conselheiros muito frios, quase intocáveis, distantes mesmos e com métodos antigos. Com o tempo tudo foi mudando, mas sempre teve um colegiado muito ético e qualificado. Hoje, nós temos um colegiado mais jovem, mais moderno, mais simples e também acessível. Mudou a maneira de se relacionar, de julgar, tudo ficou mais veloz. Bem, o mundo mudou e aqui dentro tudo mudou… para melhor. O que vemos com as mudanças é que o tempo passa rápido e você tem de viver de bem com a vida, com o trabalho e, sobretudo, com a sua família. Eu passo muito tempo aqui dentro, então nada mais justo do que fazer um prazeroso e bom ambiente de trabalho.

Decom:  Os servidores têm um carinho muito grande pela senhora. Em sua posse tinha muitos presentes, disputando cadeiras com autoridades.  A que a atribui esse sentimento?

YLS: Amizade sincera. Odeio hipocrisia. Quando sou amiga da pessoa, sou amiga pela frente e também por trás.  Não tenho inimigos. Se tem alguém que me tem como inimiga, eu lamento muito. Ainda que façam coisas para me prejudicar, eu não vou mudar o meu jeito para me tornar igual à pessoa. Eu temo a Deus e entrego a Deus tudo. Acho que essas pessoas vão aprender a não querer ser más. Eu gosto e me dou bem com todos. Se eu puder ajudar, eu ajudo. Acho que aqui está a diferença. Não estou sempre ali com as pessoas, mas elas sabem que se precisarem de mim, eu estarei sempre com as portas abertas e pronto para ajudá-las. Penso que por isso eles me queiram bem.

Decom: A senhora presidiu a Associação dos Servidores por um tempo…

YLS: Por 4 anos. Fui aclamada presidente. Foi muito bom, eu, inclusive, na próxima eleição, vou conversar com os dirigentes porque, sinceramente, estou achando tudo muito parado e, por vezes, desorganizado. O que a Astec (Associação dos Servidores do TCE) tem hoje só tem porque foi comprado por mim, durante minha gestão. Comprei o terreno, mandei fazer o chapéu de palha e ainda deixei o dinheiro para fazer a piscina Não houve melhorias depois disso e olha que já se passaram 23 anos. O meu plano, na época, era ter comprado o terreno da frente e ainda comprar um micro-ônibus para levar os servidores daqui para lá. Entendo que sede campestre da associação é uma extensão da família TCE. Conseguimos muitas coisas com doação, mas fomos atrás. As coisas precisam acontecer.

Decom: Os colegas lhe consideram a “poli position” no julgamento de processos. Como é composta sua equipe de assessores? Qual o seu método? Qual o segredo?

YLS: Não tem segredo. Chego todo os dias para trabalhar às 8h e saio depois 15h. Acompanho tudo. Quando vejo que tem algum assessor com processo parado, eu o chamo e pergunto qual é a dúvida, para se esclarecer tudo. O que a causa essa parada processual são dúvidas. A partir do momento em que se tiram as dúvidas dos assessores, eles trabalham com mais celeridade. Toda a sexta-feira, por exemplo, eu acompanho a produção do meu gabinete por meio de relatório e também peço um levantamento de cada um. Estou sempre de olho.

Decom: E quantos processos a julga por mês?

YLS: Julgo uma média de 450 processos por mês. No ano, passam de 4 mil processos. São prestações de contas, recursos, representações, tudo. Julgamento com celeridade, como pede a sociedade.

Decom: Outro dia um veículo de comunicação afirmou que a senhora era a que mais reformava decisões por meio de recursos…

YLS: Foi um equívoco da reportagem do veículo de comunicação. Quem julga mais processos julga mais processos que os outros, claro que julga também mais recursos. Se tivessem aferido por percentual e ainda por tempo de serviço, certamente não seria eu a que mais reforma decisões. Esse levantamento é muito relativo. O que sei é que o meu gabinete é um dos que mais produzem. Tenho os números para mostrar para quem quiser.

Decom:  Um recado para os servidores?

YLS: Aos servidores diria que falta pouca coisa para que se sintam privilegiados. Falta melhorar um pouco o salário, mas eles já têm um ambiente de trabalho confortável, salubre, com estacionamento confortável, coberto, coisa que muitos órgãos não têm. Tem uma gratificação por produtividade, sem falar do salário em dia. Nós temos uma qualidade de vida boa no trabalho. No meu gabinete por exemplo, as pessoas produzem muito, mas não sou carrasca. Procuramos trabalhar da maneira mais agradável possível.

Decom:  O que espera para o futuro do TCE?

YLS: Que o TCE reconheça cada vez mais servidores que dão e deram a vida pelo órgão. Eu espero que os funcionários antigos se sintam mais privilegiados. As pessoas que têm 30 anos não podem ser comparadas com os mais novos, com 2 anos de serviço. Acho injusto. Sou pela Justiça. Como conselheira, vou propor que setor de assistência social da corte faça um trabalho de prevenção junto aos servidores, contínuo e de saúde com eles. Quero que eles acompanhem os colaboradores, não somente quando estiverem internados ou doentes. Esse setor é fundamental também para o TCE e precisa estar mais presente. Estou aqui para colaborar.

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Entrevistador: Elvis Chaves/ Fotos: Socorro Lins

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